quinta-feira, 12 de junho de 2014

A importância do Brincar


 Para que serve o brincar?

Pela Dra. Ema Barros Mendes
Durante algum tempo pensou-se que a brincadeira não teria qualquer função específica, mas, atualmente é do conhecimento de todos que esta é fundamental para o desenvolvimento das crianças, pois, como referia Winnicott, uma referência para a psicologia da criança, “o brincar facilita o crescimento e portanto a saúde”. 
A brincadeira não é exclusiva à espécie humana, é uma forma de exploração do mundo que permite a aprendizagem de novos conceitos nas interações com o meio, é um espaço lúdico onde as crianças poderão descontrair-se e divertir-se. Através da brincadeira as crianças poderão também expressar os seus desejos e fantasias e libertar tensões e frustrações, resolvendo os seus conflitos e preocupações através desta. A imaginação e a criatividade também se desenvolvem a partir do brincar, uma vez que a criança tem neste liberdade para inventar, criar e descobrir.
Para além de ser uma atividade prazerosa, a brincadeira proporciona também o desenvolvimento motor, o desenvolvimento da linguagem e da comunicação bem como das competências cognitivas, emocionais e sociomorais:
Desenvolvimento motor: na brincadeira as crianças têm atividades que desenvolvem os músculos e estabilizam os movimentos físicos, adquirem também a perceção e orientação de espaço e tempo que é fundamental para a coordenação motora.
Desenvolvimento cognitivo: para além de desenvolver o raciocínio, dando a conhecer o sentindo das coisas, a brincadeira desenvolve a capacidade de atenção, perceção e memória e dá uma oportunidade às crianças para explorarem situações semelhantes às vividas na vida adulta e adquirir competências de resolução de problemas nestas mesmas situações, explorando o mundo e organizando-o.
Desenvolvimento .da linguagem e de competências de comunicação: na brincadeira as crianças desenvolvem a linguagem ao interagirem com o outro, uma vez que é através das palavras que as crianças ao brincar, expressam os seus sentimentos e aprendem ou ensinam ao outro as regras. Poderão desenvolver competências de assertividade e negociação com o outro através dos jogos de papéis desempenhados na brincadeira.
Desenvolvimento social: quando a criança brinca com os seus pares tem oportunidade de aprender a relacionar-se com o outro, a partilhar, a ceder, a negociar, a respeitar o outro e a liderar ou ser liderada. Por sua vez quando esta brinca com os adultos de referência há um estabelecimento da relação afetiva com estes, sentindo-se mais amada e confiante o que poderá ser fundamental para a sua autonomia.
 
Desenvolvimento emocional: a brincadeira facilita a regulação emocional e ao brincar a criança adquire um leque de competências emocionais, nomeadamente o auto-controlo aprendendo a esperar a sua vez e a lidar com a frustração quando perde ou quando a brincadeira não é exatamente como gostaria.
Desenvolvimento moral: no brincar as crianças aprendem os valores morais, as regras e os limites na relação com o outro, semelhantes às normas existentes no mundo dos adultos, aprendem também as regras implícitas, como o não abandonar a brincadeira a meio e respeitar o espaço do outro.
Atualmente as crianças têm muitas atividades extracurriculares planeadas e com horários rígidos. Os adultos por sua vez também estão dependentes de horários pouco flexíveis e têm uma diversidade de tarefas domésticas para fazer ao final do dia. Nos tempos que correm é difícil gerir o tempo e as atividades, sobrando muito pouco tempo para os momentos em família. Há adultos que reconhecem isto e que se culpabilizam por não ter tempo para as crianças, no entanto bastam cerca de 10 a 15 minutos por dia. Um estudo desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Coimbra demonstrou que brincar 10 minutos diários com os filhos na idade pré-escolar reduz perturbações do comportamento nas crianças e aumenta as competências parentais.
Quando o adulto de referência for brincar com a criança, deverá ser um momento em que está 100% disponível para esta, deverá dedicar-se exclusivamente a esta tarefa, esquecendo o computador, o telemóvel e a televisão, sendo um momento privilegiado para o estabelecimento da relação entre a criança e o adulto.
 
Qualquer um poderá ser agente do brincar, proporcionando às crianças estas experiências, contudo existem algumas regras para que as crianças disfrutem de todas as potencialidades da brincadeira que deverão ser tidas em linha de conta. Enquanto brincam, as crianças devem ser ouvidas e as suas ideias devem ser respeitadas, deverão ser criados ambientes que facilitem as brincadeiras, ambientes seguros em que as crianças possam brincar livremente. Deverá ser evitado o não durante a brincadeira “não mexas”, “não faças assim” ou “não vás para aí”, assim como qualquer outro comentário que limite a imaginação e a criatividade da criança no momento de brincar, “está quieto” ou “já chega”.
 
E deste modo, o mais importante não é a quantidade do tempo da brincadeira mas sim a qualidade do mesmo.

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